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Março/2016, Exposição Isolados no ateliê Gris, Araraquara/SP.

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Da experiência com o grupo de pintura do professor Ubirajara Júnior, e encantada pela possibilidade de encarnar como gesto o espaço da delicadeza e da suavidade, HELOÍSA JUNQUEIRA adentrou o universo da aquarela. A série ISOLADOS surgiu da relação afetiva da artista com o universo animal e de suas indagações a respeito da linha fina que divide o que humaniza daquilo que animaliza. Um camaleão solitário - a primeira aquarela - se desdobrou para diversos bichos que, mesmo que em sua origem vivam em bandos, aparecem solitários, dispersos no espaço branco e nos espreitando. Dos suaves gestos do pincel, surgem animais distintos que ganham força pictórica no uso dos pigmentos naturais solúveis em água. Paradoxalmente, há aí também algo de irretornável e irreparável, pois a técnica da aquarela não permite correção. É, portanto, um movimento contraditório de firmeza delicada. Ao contemplar as formas criadas por Heloísa Junqueira, assim como a qualidade do seu desenho e de seu processo artístico, fica o sentimento de que adentramos um universo antes desconhecido, agora revelado pelas delicadas nuances da aquarela. Seus animais se apresentam numa enevoada realidade circundada de branco e a estranheza desse lugar de animais quase míticos em sua solidão parece mostrar que o mundo é feito da mesma matéria de que se fabricam os sonhos. Com matéria sutil, a artista revela uma estrutura metafísica e densa, construída na atmosfera da energia delicada e inapreensível, aquela que é feita de mitos e fábulas, que somente se acende quando a consciência adormece. Os animais são quase figuras arcaicas e atemporais e a perenidade lhes confere, por sua vez, uma fatalidade, a mesma que os condena – e condena quem os olha - ao exercício do vazio. Somos levados também a encarar nosso isolamento como bicho- homem ou à medida exata de aproximação que podemos ter das coisas e de nossos pares. É nessa medida que a série de animais mostrados assim – isolados – pode nos fazer pensar sobre o isolamento, a solidão e o convívio. A característica atemporal da cena e o fantástico das figuras representam uma intervenção nas ordenações rotineiras do nosso mundo. E em arte a nuança é tudo. Mas, mais que a nuança, o subjacente é tudo. O que permeia, o não explícito, o intervalo, o silêncio entre os ruídos, o oculto entre os sinais, o simplesmente impregnado. A nuança é o sol e a lua, o dia e a noite, a escama do peixe, a pele do rato, o tom rosa do flamingo, o verde camaleônico. O diferencial entre o ser humano e a vida puramente animal é a consciência que é identificada, fundamentalmente, pela percepção do tempo. O homem é aquele que sabe que morrerá. Afastadas da ambição de figurar o mundo animal como ele é, as aquarelas de Heloísa se voltam, introspectivas, para a investigação e o registro de sua própria feitura e nos convidam para um passeio contemplativo de alta voltagem poética. Bianca Coutinho Dias.

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